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Caso tenebroso de cirurgião esquartejador vira livro e série

Por Daniel Alves em 06/12/2021 às 06:57:31

Farah Jorge Farah foi autor de um dos crimes que mais chocou o país: em 2003, matou a amante, esquartejou o corpo e o colocou em sacos

Um dos crimes que mais chocaram o país pode ter sido inspirado em outro episódio cruel. O caso do cirurgião plástico Farah Jorge Farah – que assassinou em 2003 sua obsessiva ex-amante e paciente e depois esquartejou o corpo – muito se assemelha ao "crime da mala", ocorrido em 1908.

Essa curiosidade foi levantada pela jornalista Patrícia Hargreaves, que passou quase dois anos pesquisando o caso bárbaro que levou Maria do Carmo Alves à morte em São Paulo. Em seu livro recém-lançado, O Médico que Virou Monstro, a autora conta as histórias por trás do caso.

Para ela, uma das descobertas mais chocantes é a semelhança com este outro caso: "Em 1908, um libanês chamado Michel Trad matou e esquartejou seu sócio, o comerciante sírio Elias Farhat, por ter um caso com sua mulher. Ele chegou a tentar embarcar em um navio com partes do corpo do homem em uma mala, de onde veio o nome do crime, mas acabou pego", conta.

O crime

Maria do Carmo Alves era paciente de Jorge Farah Jorge. Ela o procurou para a retirada de um cisto. No entanto, as recorrentes visitas para refazer curativos foram tidas, mais para frente, como um caso entre os dois.

De acordo com a família da vítima, a mulher chegou a buscar o profissional novamente para a retirada de um novo cisto no abdômen, mas ficou consternada com a cicatriz que resultou do procedimento. Como era muito vaidosa, a situação se tornou uma questão traumática, o que a levou a uma obsessão.

"A quebra do sigilo telefônico dela mostrou 5.800 ligações feitas para o consultório do médico, familiares e para o próprio telefone dele. Isso tudo em um período de 8 meses, o que dá cerca de 190 ligações por dia", conta Patrícia.

Segundo a escritora, é como se, naquele momento, Farah fosse a labareda e a amante, o vento, ajudando a acender o que já existia ali, o lado psicótico do doutor. Em 24 de janeiro de 2003, Maria do Carmo foi ao consultório de Farah para um procedimento de lipoaspiração.

Neste dia, uma sexta-feira véspera de feriado, Farah liberou sua secretária mais cedo, algo incomum. Em depoimentos, ele diz que Maria do Carmo chegou com uma faca tentando ameaçá-lo, mas o objeto nunca foi encontrado. Farah Jorge Farah matou a mulher, na época com 46 anos, e buscou dificultar a identificação do cadáver.

Ele arrancou a ponta de todos os dedos da vítima, tirou as vísceras e guardou os restos mortais em cinco sacos plásticos, que deixou no porta-malas de seu carro. Depois, confessou o que fez a sua sobrinha, que acionou a polícia.

Condenação e morte

Em 2014, Farah Jorge Farah recebeu pena de 14 anos e 8 meses de prisão pelo crime, inicialmente em regime fechado. O médico acabou não detido porque uma decisão de Supremo Tribunal Federal (STF), que o permitiu que cumprisse a pena em liberdade.

Mas isso mudou em 2017, quando o Superior Tribunal de Justiça (STJ) ordenou que o cirurgião começasse a cumprir a pena imediatamente. Um dia depois, a Polícia Civil foi à casa de Farah, na Vila Mariana, zona sul de São Paulo, para capturá-lo, mas se surpreendeu com o que encontrou: o médico estava morto e vestido com trajes femininos.

Ele havia injetado silicone nos seios e nas nádegas e apresentava um corte na perna. A perícia apontou que o médico cometeu suicídio por meio de corte das vias femorais, que levam ao coração o sangue que vem dos membros inferiores.

Além disso, antes de tirar a própria vida, o criminoso realizou uma espécie de ritual com uma música fúnebre, e chegou a dizer a vizinhos que não voltaria para a cadeia.

"A curva de deterioração da sanidade mental de Farah é impressionante. E a morosidade da Justiça colaborou muito para a existência do que aconteceu ali", afirma a autora.

Série documental

A história contada por Patrícia Hargreaves será base para uma série documental da Boutique Filmes, mesma produtora de Elize Matsunaga: Era uma Vez um Crime. Ainda não há previsão de lançamento.

"Contar essa tragédia em detalhes é fundamental para que ela não se perca. A sociedade precisa aprender com suas falhas. Só assim haverá evolução", acredita a escritora.

Um dos destaques da produção deve aparecer na questão do luminol. Este foi o primeiro crime no país desvendado utilizando a substância. Ela auxilia na identificação de vestígios de sangue no ambiente mesmo depois de limpo.

Na época, o investigador, o mesmo do caso Chico Picadinho, afirmou ter encontrado sangue até no teto do consultório.

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