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PEDOFILIA NA IGREJA CATÓLICA, Comissão já recebeu 326 testemunhos de abusos

Por Daniel Alves em 10/05/2022 às 13:30:12

PORTUGAL, Já foram recolhidos 326 testemunhos de vítimas de abusos sexuais na Igreja Católica, mas número pode ainda atingir "muitas centenas".

A Comissão Independente criada para investigar abusos sexuais na Igreja Católica portuguesa já recolheu 326 testemunhos de vítimas, anunciou esta terça-feira a investigadora Ana Nunes de Almeida, sublinhando que o número de potenciais vítimas pode ainda atingir "muitas centenas".

"Temos 326 testemunhos recolhidos até ontem [segunda-feira], de mais homens do que mulheres, de todos os grupos etários, de todos os níveis de escolaridade e temos todas as modalidades de abuso representadas no inquérito", afirmou a socióloga, que integra a comissão criada em janeiro e coordenada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht.

Na abertura da conferência "Abuso Sexual de Crianças: Conhecer o Passado, Cuidar do Futuro", organizada pela Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa, Ana Nunes de Almeida realçou que "além dos 326 testemunhos diretos, somando o número de outras pessoas que dizem ter sido vítima de abuso também, esse número sobe para muitas centenas de crianças e adolescentes".

A investigadora e membro da comissão garantiu também que "as entrevistas com dioceses estão a decorrer a muito bom ritmo" e que têm sido recolhidos relatos de experiência de contactos com abusos.

Quanto ao acesso aos arquivos da Igreja, Ana Nunes de Almeida explicou que essa tarefa estará a cargo de uma equipa de historiadores sob a liderança de Francisco Azevedo Mendes, docente na Universidade do Minho.

Embora o trabalho desta Comissão Independente não vise a exposição direta de abusadores ou de instituições onde tenham sido cometidos abusos sexuais contra crianças, a socióloga e investigadora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa reiterou a importância do conhecimento mais aprofundado da realidade.

"Conhecer a realidade é sempre reconhecer a sua complexidade intrínseca, é uma condição 'sine qua non' para intervir. Não há mudança para melhor sem o contributo da ciência. Façamos da causa da luta aos abusos contra crianças uma causa civilizacional", afirmou, na sessão que abriu a conferência realizada na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

Comissão de investigação vai enviar mais casos de abusos na Igreja para o MP

O coordenador da Comissão Independente que investiga os abusos sexuais na Igreja Católica Portuguesa anunciou entretanto que há já mais casos de queixas de vítimas que não prescreveram e que estão preparados para serem enviados ao Ministério Público (MP).

Em declarações à margem da conferência "Abuso Sexual de Crianças: Conhecer o Passado, Cuidar do Futuro", o pedopsiquiatra Pedro Strecht referiu que "já foram enviados 16 casos para o Ministério Público, mas em breve seguirão mais", manifestando a expectativa de uma atuação célere da justiça.

"Já manifestei o desejo de celeridade da resposta da justiça portuguesa. Nem sempre é aquele que desejamos, mas neste caso é muito importante chegarmos ao final do trabalho, apresentarmos o relatório e, mesmo que seja preciso algum tempo, as pessoas sentirem que no aspeto de uma justiça reparadora aconteceu algo. Enquanto coordenador da comissão, não desejo chegar ao final destes trabalhos, decorrer algum tempo que ainda possamos achar justo e, depois, ser confrontado com uma total ausência de respostas jurídicas", explicou.

Pedro Strecht disse esperar "que isso não vá acontecer", realçando o "material que já foi enviado", mas também aquele "que muito em breve será enviado" e outras descobertas que possam ainda ser feitas ao longo do trabalho da Comissão Independente.

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