Putin não foi tão extremo em sua declaração. Mas também não foi exatamente delicado.
O líder do Kremlin disse que não descarta mudanças na doutrina nuclear da Rússia: o documento que estabelece as condições segundo as quais a Rússia usaria armas nucleares.
"Esta doutrina é uma ferramenta viva e estamos observando atentamente o que está acontecendo no mundo que nos rodeia e não excluímos fazer alterações. Isto também está relacionado com os testes de armas nucleares."
E fez um aviso aos países europeus que têm apoiado a Ucrânia: a Rússia tem "muito mais [armas nucleares táticas] do que há no continente europeu, mesmo que os Estados Unidos tragam as suas".
"A Europa não possui um [sistema de alerta precoce] desenvolvido", acrescentou. "Nesse sentido, eles estão mais ou menos indefesos."
As armas nucleares táticas são ogivas menores projetadas para destruir alvos sem precipitação radioativa generalizada.
A Rússia tem usado o enorme fórum econômico internacional para enviar a mensagem de que está pronta para a cooperação e que, apesar de tudo, os negócios continuam como sempre.
É evidente, porém, que não são tempos de normalidade. A Rússia está travando uma guerra na Ucrânia, que já está no seu terceiro ano. E como resultado, é o país mais sancionado do mundo.
E, neste momento, as tensões estão aumentando entre a Rússia e o Ocidente.
No início desta semana, em uma reunião com chefes de agências de notícias internacionais em São Petersburgo, Putin sugeriu que a Rússia poderia fornecer armas convencionais avançadas de longo alcance a terceiros para atacar alvos ocidentais.
A declaração foi uma resposta à decisão da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) de permitir que a Ucrânia atacasse o território russo com armas fornecidas pelo Ocidente.
Durante sua participação no Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo, o presidente russo repetiu a ideia.
"Ainda não fornecemos essas armas, mas reservamo-nos o direito de fazê-lo aos Estados ou entidades jurídicas que estejam sob certa pressão, incluindo pressão militar, dos países que fornecem armas à Ucrânia e incentivam a sua utilização em território russo."
Ele não deu mais detalhes ou apontou os nomes dos países
Mas em que partes do mundo a Rússia poderia implantar os seus mísseis?
"Onde acharmos necessário, com certeza vamos colocá-los. Como o Presidente Putin deixou claro, iremos investigar esta questão", disse à BBC Vladimir Solovyov, um dos apresentadores mais proeminentes da televisão estatal russa.
"Se você está tentando nos prejudicar, precisa ter certeza de que temos oportunidades e chances suficientes de prejudicá-lo."
"No Ocidente, alguns dirão que já ouvimos esse barulho de sabre antes", respondo, "e que é um blefe".
"É sempre um blefe. Até o momento em que não for", responde Solovyov. "Você pode continuar pensando que a Rússia está blefando e então, um dia, não haverá mais Grã-Bretanha para rir. Nunca tente cutucar o urso russo pensando: 'Ah, é um gatinho, podemos brincar com ele'."
CEOs da Europa e dos Estados Unidos costumavam se reunir no Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo. Não mais.
Em vez disso, observamos delegações da Ásia, África, Oriente Médio e América do Sul. A Rússia tem aproveitado o evento deste ano para tentar mostrar que, apesar das sanções ocidentais, há muitos países no mundo que estão prontos para fazer negócios com Moscou.
E o que aprendemos em São Petersburgo sobre Vladimir Putin?
Que ele parece cada vez mais confiante e determinado a não recuar. Ele parece acreditar que, no atual impasse entre a Rússia e o Ocidente, será o Ocidente quem tremerá primeiro.