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Real perde para peso argentino e é 2ª moeda que mais desvalorizou no ano

Dólar valoriza 12,4% no mesmo período.

Por Francisco Alves de Souza em 23/06/2024 às 06:46:31

A desvalorização do real superou as perdas do peso argentino, colocando a moeda com o segundo pior desempenho do ano, de acordo com levantamento feito a pedido da CNN por Einar Rivero, sócio fundador da Elos Ayta Consultoria.

A pesquisa considerou 23 moedas globais. Ao longo da semana, até a quarta-feira (19), o real tinha a maior desvalorização do índice.

Mas, nesta sexta-feira (21), a divisa norte-americana fechou em queda de 0,38%, dando um pequeno alívio para o real. O dólar era negociado em R$ 5,441, registrando, ainda assim alta de 1,12% na semana. No ano, a valorização do dólar em comparação ao real vai ainda mais longe: 12,40%.

O que chama atenção é que a moeda brasileira passava por um momento positivo forte no final do ano passado. Entre os fatores que impulsionaram os ativos brasileiros, estava a perspectiva favorável em relação ao exterior.

Alexandre Cabral, professor de Finanças da Saint Paul Escola de Negócios, explica que esse sentimento otimista atraiu os investidores estrangeiros ao país, levando a cotação da divisa norte-americana para baixo. No fim de dezembro, o dólar era negociado na faixa de R$ 4,90.

"[O capital externo] veio para o Brasil com a esperança de que os juros nos Estados Unidos caíssem em março. Se o juro cai nos Estados Unidos, a moeda vai para o mundo", explica.

Mas Cristiane Quartaroli, estrategista de câmbio e economista-chefe do Ouribank, relembra que o movimento era uma antecipação por um momento que eventualmente não veio a acontecer com o adiamento dos cortes dos juros pelo Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA).

"Isso também favorecia as moedas emergentes de forma geral", explica.

Porém, 2024 começou desfavorável para a realização desses cortes nos EUA. A economia norte-americana vem mostrando resiliência, com um mercado de trabalho aquecido, atividade mantendo força, além de preocupações com a trajetória da inflação.

"Diante deste cenário, e de fatores geopolíticos que também influenciam este movimento, como os conflitos de abril entre Irã e Israel, o Federal Reserve postergou o início do ciclo de cortes de juros", avalia Berenice Damke, professora do Insper e especialista em hedge, derivativos e gestão de riscos financeiros da Damke Consultoria.

Mas não só de decepções com o exterior se fez a valorização do dólar. A queda do real também foi puxada por fatores internos.

Neste aspecto, Damke aponta o aumento da percepção com o risco fiscal, que até o ano passado não havia pressionado tanto o humor dos investidores.

"Em 2023, a valorização do real refletiu o alívio em relação aos temores fiscais. Mesmo com as incertezas em relação às contas públicas, houve uma percepção positiva sobre o mercado de melhora ao longo do ano, dado a aprovação do arcabouço fiscal, e considerando os esforços da equipe econômica para elevar a arrecadação e atingir a meta de déficit primário zero em 2024", relembra Damke.

Porém, em abril deste ano, a "montanha-russa" entrou no trecho de descida.

Com a revisão da meta fiscal para 2025 — de um superávit primário para déficit zero —, começaram a crescer os temores sobre a responsabilidade fiscal do governo.

"Para o mercado, a alteração da meta sinaliza uma abertura para a ampliação dos gastos por um governo com dificuldades de elevar receitas", aponta Damke.

A mais recente investida do governo para manter a arrecadação em alta, foi o envio da medida provisória que visa fechar brechas na legislação sobre crédito presumido PIS/Cofins não ressarcível e na compensação PIS/Cofins limitada.

A medida, contudo, foi mal recebida gerou críticas de parlamentares e dos setores da economia, a ponto de ser devolvida na semana seguinte de seu envio.

Com os juros se mantendo elevados por mais tempo nos EUA, o cenário tende a ser desfavorável para o resto do mundo como um todo. Porém, mesmo que o "externo esteja ruim [para todos], o Brasil fica no fim da fila por causa das razões internas", diz Evandro Buccini, sócio e diretor de Crédito e Multimercados da Rio Bravo Investimentos.

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