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Vítima de golpe em igreja explica que pastor pegava dinheiro emprestado e pedia 'discrição': 'não poupava ninguém'

Por Daniel Alves em 06/08/2023 às 13:28:13

Segundo investigações, até o momento, 35 vítimas foram identificadas, uma delas falou em entrevista para a TV Cabo Branco. Congregação do pastor também foi vítima de furto estimado em R$ 17 mil.

O homem é uma das vítimas do pastor Péricles Cardoso de Melo e preferiu não ser identificado. Ele disse que o líder religioso pedia dinheiro para fazer reformas na igreja ou como doação para ele próprio. Mas desde o começo, ele achou estranha a forma como o pastor o abordou, pedindo contribuições para reformar a igreja.

"No começo achei estranho, porque ele chegou com uma maquineta, e aí disse "você passa o cartão aqui", a gente saca o valor e com esse valor vamos comprando material de construção, pagando a mão de obra, e as coisas iriam acontecer", disse.

O homem está entre as 35 vítimas que foram identificadas até o momento. A congregação do pastor também foi vítima de furto, estimado em R$ 17 mil.

A vítima disse que viu algumas reformas acontecerem, mas começou a desconfiar que se trava de um golpe quando, após pedir o cartão do fiel emprestado, o pastor atrasou o pagamento pela primeira vez.

"Eu perguntei o que aconteceu, o pastor disse que "houve um problema na maquineta, um problema com o banco, que não estou conseguindo sacar o dinheiro", algo mais ou menos nesse sentido. Eu achei estranho, mas ele era uma pessoa tão amigável. Ele começou a chorar dizendo que não queria sujar meu nome", relata.

Além disso, a vítima relata também que enquanto o pastor procurava tentar remediar a situação com ele, novos golpes eram aplicados.

"Ele ia fazendo novas vítimas, e uma coisa que ajudava muito era que ele pedia discrição. Dizia "olha, ajude seu pastor, não comente nada com ninguém". Na hora de aplicar os golpes, ele não poupou ninguém", conta.

A vítima também ressaltou que o pastor chegou a abordar até pessoas mais "desafortunadas financeiramente" para que elas também dessem dinheiro.

Dívida de R$ 90 mil

Segundo a vítima, com todos os cartões somados após os golpes do pastor, dívidas na casa de R$ 90 mil foram feitas apenas no nome dele, e a tendência é de que os valores subam ainda mais por conta dos juros.

"Quando somou-se todos os cartões, era aproximadamente R$ 90 mil. Hoje, por conta dos juros, está em torno de R$ 140 mil a dívida", disse.

A TV Cabo Branco teve acesso ao endereço do religioso e também ao número de telefone. A reportagem foi ao prédio em que ele mora, em Mangabeira, para tentar ouvi-lo, mas ninguém atendeu ao interfone. Os contatos pelo celular também não renderam retorno.

"Eu espero realmente que o poder público se mova, mova as suas forças para investigar, para encontrar esse cidadão, para que ele não faça novas vítimas. Eu não desejo, jamais, para ninguém aquilo que estou passando", disse o entrevistado.

A delegada Sileide Azevedo, responsável pelas investigações do caso, não quis gravar entrevista, mas disse por telefone que o inquérito está em andamento. Ela afirmou que preferia não passar mais detalhes para não atrapalhar as investigações.

O crime

Na época da denúncia, a delegada Sileide Azevedo informou que um inquérito policial foi instaurado e as vítimas foram ouvidas após boletim de ocorrência registrado pelo pastor presidente da Assembleia de Deus em João Pessoa, responsável por 150 igrejas congregadas, quando informado em reunião sobre a ação do pastor.

O suspeito agia de diversas formas, utilizando a condição de pastor e da confiança que os fiéis tinham nele. O golpe foi aplicado por meio de empréstimo de dinheiro em espécie, cartões com senha, cheques e notas promissórias. Até mesmo foram feitos financiamentos de veículos em nomes de fiéis. O valor que deveria ser pago mensalmente nunca era devolvido.

Desde o último dia 12 de julho, o pastor não comparece à igreja.

A Assembleia de Deus na Paraíba informou, por meio de nota, que Péricles Cardoso de Melo teria praticado crimes, como estelionato e furto, contra a igreja, congregados e pessoas próximas. Diante de evidências apresentadas em uma reunião, o suspeito foi afastado das suas funções eclesiásticas.

Também informaram que foi aberto um procedimento disciplinar administrativo por parte da denominação Assembleia de Deus na Paraíba, além de acionarem as autoridades competentes para apuração das denúncias.

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