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EDUCAÇÃO BRASIL, Escolas enfrentam abandono de crianças que ainda não aprenderam a ler

Por Daniel Alves em 27/01/2022 às 05:54:21

Vacinação dessa faixa etária pode ajudar a trazê-la de volta à escola, indica pesquisa da FGV Social; tempo de estudos de alunos de baixa renda caiu à metade do que era há 15 anos.

Crianças na fase de alfabetização (5 a 9 anos) e crianças mais pobres estão entre as mais afetadas pelas perdas de tempo de ensino ocorridas durante a pandemia, aponta um novo estudo recém-publicado pela FGV Social, que levanta a preocupação com "sequelas de longo prazo bastante fortes" nas futuras gerações.

A partir de dados do IBGE (das pesquisas Pnad Covid e Pnad Contínua trimestral), os pesquisadores Marcelo Neri e Manuel Camillo Osorio observaram que, entre as crianças de 5 a 9 anos, houve o maior aumento de evasão escolar, ou seja, de crianças que deixaram de ser matriculadas na rede de ensino - fazendo o Brasil retroceder mais de uma década nesse indicador.

É nessa faixa etária que as crianças estão finalizando a educação infantil e cursando os primeiros anos do ensino fundamental - portanto, passando pelo período crítico da alfabetização.

A evasão, que antes da pandemia (até o último trimestre de 2019) era de 1,41% entre as crianças de 5 a 9 anos, subiu para 5,51% no último trimestre de 2020.

Quase um ano depois, no terceiro trimestre de 2021, quando muitas escolas já estavam ao menos parcialmente abertas, mesmo assim a evasão se manteve em patamares bem acima do nível pré-pandemia, em 4,25%.

"Os mais novos saíram mais da escola e retornaram menos aos bancos escolares", adverte Neri à BBC News Brasil.

Na fase de alfabetização, a presença próxima do professor costuma ser particularmente importante. Além disso, as crianças dessa faixa etária são as mais afetadas pela pobreza e pela desconectividade no Brasil, aponta o pesquisador - e esses fatores podem ajudar a explicar o distanciamento da escola no momento em que o ensino migrou para o ambiente remoto.

Para Marcelo Neri, que é diretor do FGV Social, especialista em mensuração de desigualdades e ex-ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, o fato de tantas crianças dessa idade terem saído da escola e muitas não terem voltado ainda reforça a importância de s

Ter os filhos vacinados pode dar segurança para os pais voltarem a matriculá-los e para favorecer a recuperação escolar das crianças mais vulneráveis e que mais perderam aulas e estímulos, avalia o pesquisador.

"Mas não temos todo o tempo do mundo para isso", argumenta ele, lembrando que, historicamente, poucas matrículas são feitas depois do primeiro trimestre.

Então, quanto mais crianças dessa faixa etária forem vacinadas nos próximos dois meses, maiores as chances de mitigar a evasão, pondera.

Tempo de estudos dos mais pobres cai pela metade em relação há 15 anos

De uma perspectiva otimista, as crianças de 5 a 9 anos ainda têm muitos anos de ensino básico pela frente, então há tempo para recuperar as perdas sofridas nos últimos dois anos, afirma Neri.

Mas, por enquanto, do ponto de vista do tempo de aula que deixou de ocorrer, "o epicentro do impacto (da pandemia sobre a educação) é onde ele é mais danoso no longo prazo: entre as crianças menores e entre as mais pobres", afirma Neri.

Isso porque outro dado preocupante levantado pelos pesquisadores é que, entre os alunos de 6 a 15 anos pertencentes ao Bolsa Família - portanto, os alunos de menor renda -, o tempo médio dedicado para os estudos em setembro de 2020, no auge da pandemia, foi de apenas 2 horas e um minuto.

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